Outra vez, novamente, de novo.

O fulano senta-se ao lado dela no ônibus, semanas antes do show do U2.
nota: o ônibus está vazio, mas claro, ele tinha mesmo que sentar ao lado dela.
Fulano abanando-se de calor e deixando muito claro que tinha um tesouro em mãos.
Ela estava muito tranqüila (morrendo de sono, aliás) ouvindo seu discman. Não me recordo qual era a canção. E então que ele começou:
- Nossa, tô tão cansado.
(ela não acredita que aquele ser humano está lhe dirigindo a palavra mesmo estando EVIDENTE que estava ocupada ouvindo seu som. Humf.)
O fulano continua olhando pra ela, que, sem graça, tira o fone de ouvido e diz, com cara de poucos amigos:
- Desculpe?
- É, tô cansado. Tava lá na fila pra comprar o ingresso. (como se ela soubesse do que ele estava falando, logo ela, um tanto quanto lunática).
- Que ingresso?
Ele, muito rapidamente, com um sorriso vitorioso nos lábios:
- Do show do U2. Qué vê?
Ela, num surto de idiotice, aceita:
- Claro.
Devolve, sem saber o que falar, a não ser um:
- Legal.
- Nossa, fiquei três horas na fila.
- Que bom que conseguiu, eu e minha irmã desistimos porque a fila não andava, simplesmente. Sorte a sua.
E acrescenta, irônica:
- Nossa, se ficou três horas na fila deve ter conversado com TODOS OS QUE ESTAVAM LÁ, NÃO?
- Nossa, e como. Cê viu que eu sou chato né, já chego conversando!
(o balão dela diz: sim, você é MUITO chato, que bom que sabe disso! já é um começo...)
Ele continua, empolgadíssimo:
- É, mas aí é foda. O pessoal já quer o telefone né...
- Tá bem você hein?
- Não, mas é homem é mulher, não é só homem.
- Que ótimo! Várias possibilidades!
Ele ficou quieto por 5 segundos, talvez tentando entender a piada. Mas claro, ele prossegue:
- O ruim de dar telefone é que depois tem que dar atenção né...
Ela quase não se conteve ao ouvir a palavra atenção.
Ele continua:
- E eu não tenho tempo, faço faculdade.
- Que curso você faz?
- Você não vai acreditar quando eu te disser...
Ela pensou então o quê será que uma pessoa como aquela poderia fazer. E não conseguiu chegar a nenhuma conclusão.
- Não faço idéia...
E ele, muito, muito cheio de si, diz:
_DIREITO!
Ela passou um tempo olhando aquela pessoa, e se perguntado por que, por que será que essas coisas SEMPRE acontecem com ela. E disse:
- Ah...
Ele continua:
- Então, eu vou descer ali na Alameda Lorena, sabe? É foda né. Você vê, a gente por exemplo nunca mais vai se ver.
Ela pensa: "deus existe", mas fala:
-É, faz parte do processo todo.
Ele:
- Mas e você, que curso faz?
- Artes cênicas.
- Ah...
- Conhece?
- Já ouvi falar.
- É teatro.
- Noooossa, teatro! Minha avó sempre me disse que eu deveria fazer teatro. Eu sou super extrovertido e tals... mas você é tão tímida e faz teatro? Nem parece que é atriz.
- É que é assim: pra ser ator, não precisa ser extravagante, entende?
- É... mas sabe, o que eu queria mesmo era ser jogador de futebol. Profissional.
- Entendi.


(E então ele desceu. E ela ficou chocada por uns minutos ainda e pensando que se ela postasse isso no blog as pessoas poderiam pensar que ela inventa tudo isso.
Mas pôs os bobs nas sobrancelhas de tãããão preocupada e postou. E está pensando seriamente em andar com um gravadorzinho na bolsa).

6 comentários:

Gisalina disse...

Ah, mas eu acredito em tudo nessa vida. E por que não pediu o telefone do gatinho?

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


Posso comentar só no fds no meu chá de panela?
Muito grande o coment que eu vou fazer e dá pregui...

Beijos!
ps: meu blog morreu pra vc só... tá normal..

Anônimo disse...

Seu gravadorzinho "olhos-ouvidos" interior é perfeito! Se carregar um de fábrica, tenha certeza que vai perder a graça.
Adoro te ler!
Beijo (e pedido de desculpas pelo odioso humor matinal)

Anônimo disse...

Tudo bem que tem dia que eu também falo mais que o homem da cobra (coisa que vc deve ter percebido), mas conversas de ônibus, assim costumam fazer doer minha próstata. Eu tenho uma segunda tática, fora a do discman: quando a pessoa me cutuca, eu faço minha cara "merda arrogante n°54", e respondo: "Ah, hoje não. Obrigada". Fones de ouvido de volta.
Bem, pelo menos nunca levei um tapão na cabeça ou coisa que o valha...

Anônimo disse...

Eu devo dizer que isso foi MUITO engraçado... MUITO!
Só pra completar oq eu ia te falar la no cha da nina, tem uma professora de teatro la na escola que esta defendendo uma tese de mestrado sobre teatro com surdos e ouvintes.. Beeem legal!
Beijos

Anônimo disse...

Nêga, eu já "tive" q carregar o bebê (todo cagadinho ... diga-se de passagem) num trolei da Praça da Sé até o Sacomã, pq a doida da mãe tava grávida dinovo e, blaá-blá-blá, enjoada dentro do ônibus, resolveu "o cobrador" que "toma que o bebê é teu". E eu tava até dipé e tudo. Alguém me cedeu o lugar. E a mãe ia dando o golpe de descer e largar o bebê comigo. Era uma menininha linda e judiada já, da vida. Mas devolvi.
Não me lembrava disso há séééculos!!

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