Da vontade imensa

Nalgum lugar encontra-se a minha revolta, o meu não entendimento a respeito de fins, a minha absoluta falta de depuração.
Noutro lugar encontra-se toda a minha vontade do novo, do mais desbundante desejo de viver uma enxurrada de águas, visto que água é renovação. Uma derramada de flores, todas aquelas mais lindas flores, visto que flor e cor e cheiro é beleza.
Então que de repente eu sou mar revolto e incompreendido e as mãos não param, e o peito é cavalaria, e a mente é um vaievém de tempestades e relâmpagos.
E depois de toda esta tormenta sou uma braçada de rosas, um quarteirão de lilases, um caramanchão de primaveras, o crepúsculo mais poético de todos os tempos, a manhã fresca e nova, uma macieira carregada.
Que existe uma angústia sem graça alguma que vez por outra arromba e faz fuzarca, e sou tomada de súbito desespero.
E então caminho por todas as ruas de dentro e contemplo a miscelânea de cores em que me transformei.
E a vontade de expurgar, de renascer, de demolir para depois alavancar.
E todos os filmes que tenho visto e toda a coragem e a falta de.
E a minha imensa e absoluta e incontestável coragem e valentia.
E a minha honestidade admirável.
E a de Cazuza. E a de Van Gogh. E o sangue de sua orelha, absolutamente honesto e toda toda e toda a sua loucura.
E a loucura nossa de cada dia.
Vou voltar a escrever, para que nunca mais deixe de enlouquecer.

"O amor é o ridículo da vida.
A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo.
A vida veio e me levou com ela.
Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue, bonita e breve; como as borboletas, que só vivem 24 horas.
Morrer não dói."

Cazuza.