Folia

Tinha o rímel escorrido pelo rosto enrugado, um borrão preto pierrot a la Cabíria.
uma saia-ventania, que lhe dava um aspecto decadente e diziam dela que era a "velha que não queria receber a idade. vai, idade".
uma sapatilha gasta, furada na sola, vermelho carmim, bem como o batom borrado numa boca mal desenhada e escancarada ao som de "a la la ô, ô ô ô, ô ô ô, MAS QUE CALOOOOOR, OOOOO, OOOOOO... atravessando o deserto do saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara..."
Suava correntezas, tinha purpurina grudada no corpo todo - boca, peitos-enormes, pernas, barriga.
Nas mãos um copo plástico com um Martini já quente de tanto chacoalhar e embalar as mais batidas marchinhas.
camabaleava em direção aos trenzinhos animadíssimos de fim de festa, tropeçava em si mesma, na sua tristeza imensa. uma solidão abissal.
vontade-serpentina de se emaranhar nos braços de um qualquer. queria confete.
queria convívio, casa, família, batuque na mesa e não no salão.
no peito um vazio quarta-feira.
cinza-escuro pensamento.
ecos,
calos,
bêbados.
Rasgou a fantasia na terça feira gorda.
Faltou rasgar o verbo e fazer carnaval na vida.

5 comentários:

LC disse...

É sempre possível ver o que você descreve. Que delícia!

Tom Coyot disse...

Vai, idade!!!

Anônimo disse...

Vim de um post seu intitulado "Pássaro". Tão lindo!
Mas observei a data e pensei? Pôxa, será que ela deixou de escrever??? Não podeee!!!
Ainda bem que não...Como a Léia diz, a gente vai vizualizando tudo,sentindo.
Gente, tem muto Poeta por aqui!Não sou mas gosto, quem não gosta?
Um abraço

Mariana F. Bordin disse...

Vejo muita gente assim, mergulhada na solidão e que se esconde atrás de festas e de um copo (ou vários) com bebida. E são pessoas jovens... não sei o que é pior!Bjos!

Mariana F. Bordin disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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