Sei muitíssimo bem como gosto de postar coisas minhas, e somente minhas, neste blog branco, neste canto meu, neste espaço, neste vazio cheio de mim.
Mas então que esta é a hora de Drummond.
E deste poema. Que um dia eu direi, com muita suavidade e alguma violência. Porque o amor tem um quê de violência. E um quê de desespero. E de desapego. E de levíssimo.
Bastante inexplicável, assim mesmo.
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia, e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Do tal amor. E do amar.
Postado por A Libélula
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