E então, um dia, eis que um dia, depois da dança um tanto amalucada das árvores, depois de toda a inexatidão das coisas todas,
depois do descompasso,
do desconforto,
do enrijecimento,
da torridez,
eis que um dia, o lugarejo todo, todo o lugarejo, estava lento. As pessoas andavam lentamente, davam dedos de prosa com um devagar gostoso e quente, o sol demorou dias para ir embora, e então não havia noite, não mais.
A tal desavergonhada havia, pois sim, deixado as pessoas. Tontas. Lentas. Doidas. A tal se enfeitou como se fosse um dia de grande festa, colocou um turquesa longo de causar batidas e buzinadas alucinantes, penteou os maltratados de forma a ficarem para cima e muito para cima, feito o rabo dos eqüinos, e esperou que a primeira ave de rapina passasse na esquina da rua mais estreita que havia ali.
Chegou a ave, com sua grande asa magenta, e então, puxou a tal mulher pelo seu maltratado e imenso penteado eqüino e levou-a para o alto. Altíssimo.
Nunca mais se soube dela, a partir daquele momento.
Por vez ou outra, na semana em que ela partira no bico da ave magenta, se ouvia um estremecer do alto, uma espécie de desmembramento do céu, quase isso. É.
Depois de alguns dias, o lugarejo todo, de tão lento, congelou. De um congelamento quente, e não frio. Daqueles congelamentos de quando se perde o sentido. O entendimento de tudo. A alegria da espera. O embalamento cheiroso dos dias. De todos eles.
E fim.
Capítulo último.
Postado por A Libélula
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1 comentários:
E o capítulo último não poderia ser mais bonito.
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