Luto

Estou de luto.
Por um motivo bastante significativo: estou enterrando um grande amor.
Não, ninguém morreu fisicamente, graças a Deus.
A morte é de outra ordem, e exatamente por isso, talvez doa mais. Doa de forma quase inaceitável.
Estou de luto em nome do desencontro absoluto que pode existir entre duas pessoas.
Estou de luto em nome de uma história que eu acreditei. Talvez tenha acreditado sozinha, e isso também me faz estar de luto.
Estou de luto em nome de ter amado com uma profundidade que não sei se voltarei a amar um dia. E por isso, por não saber se um dia novamente outra vez, outro alguém dilacerante assim, estou de luto.
Estou de luto porque talvez tenha idealizado por anos uma pessoa que nem sei se existe. Aliás, existe. Mas de um jeito que eu não sei se conheço e por ter amado sem conhecer, talvez, eu também estou de luto.
Estou de luto porque morri um pouco também, junto com uma história que tinha claramente, pra mim, prazo de validade. Estou de luto porque eu me permiti viver com toda a força e entrega do mundo, uma história na qual não me foi permitido sonhar.
Sabe sonhar? Morar junto, tomar café da manhã junto, fazer faxina junto, ouvir Nina Simone junto, se arrebatar junto.
Estou de luto em nome de um único arrebatamento: o meu.
Estou de luto por ter vivido coisas inesquecíveis também, não fosse assim, não seria um grande amor, mesmo enterrado.
Estou de luto três semanas pós término, pois agora, inacreditavelmente somente agora, me caem algumas fichas e as coisas se mostram como de fato sempre foram, e eu, na minha feroz vontade de fazer dar certo e de fazer valer a pena, não consegui ver, com olhos de ver, de fato.
Estou de luto por estar com raiva, por estar revoltada por saber que não, eu não sou quem você sempre sonhou, mesmo que você me diga isso, eu jamais acreditarei. Jamais.
Porque por quem a gente sempre sonhou, a gente luta. A gente briga. A gente esperneia. Aos 20 ou aos 85. Não importa. É O QUE A GENTE SEMPRE SONHOU, entende? Entendem?
Na verdade, eu acho que você pensa (e eu nem sei, acho que você nem vem mais aqui, mas preciso escrever ou enlouqueço) que sonhou com uma mulher como eu. Que te amasse grande, que não fosse alcoólatra, que não te traísse, que não te
Mas olha, veja você, que grande ironia.
Foi justamente pra essa, que te amou assim, sem restrições, que não te aprisionou, que te trouxe vida, luz e música, em um sentido absolutamente amplo, foi justamente pra essa, que você fechou a porta.
E um dia, ela morreu. Sem ar, esgotada, e absolutamente triste.

3 comentários:

Vanessa disse...

é, enterrar não é tarefa fácil.. dói tanto que achamos q vamos morrer tb...mas não se culpe, vc fez o seu melhor. Sei q saber disso não diminui a dor, o jeito pe senti-la, chora-la e amarga-la a´te q um dia vc acorde e ela tenha ido embora.
to aqui.
bjux com amor.

Anônimo disse...

Ah, Lan, o quê dizer?
Que pessoa nesse mundo não passou pelo menos uma vez na vida por um luto desses?
O único jeito é respirar fundo e continuar vivendo, por mais dilacerante que seja...
"Às vezes, a única maneira de apagar um incêndio é deixar que ele queime...".
Beijos,
Marli

Anônimo disse...

Te mando um abraço apertado e compriiiiiiiiiiiiido (e tulipas).

Seguidores