o texto pode ter o nome que quiserem. só não o chamem de "você", peloamordedeus!

você, que vai me fazer escutar a cor das coisas
os diferentes tons de uma açucena
e uma jaboticabeira num quintal no castanho do dia.
você, que vai me fazer dançar com formigas,
entender o vôo de uma garça,
deitar na sombra da cor mais bonita no manso da noite.
você que vai enlouquecer comigo em horinhas imprevisíveis
você que vai compreender a minha desordem em se tratando de palpitações e brilho nos olhos
você que vai me deixar à vontade para todo o sempre
você que vai desagüar comigo e se jogar no ébrio e no caudaloso
você que vai me dar um bem-te-vi no crepúsculo
e que vai saber chegar no olho do furacão.
e que vai entender como se faz para segurar no rabo da tarde,
e me ensinar.
e eu ensinarei como se torce o nariz da manhã,
e como se engole o alaranjado,
o verde-água,
o rosa-queimado,
sem engasgar.
E um dente-de-leão te fará cócegas.
E transbordaremos de delírios, desejos e bonitezas.

Você talvez não exista.
Ou eu te perdi de vista.
Ou ainda vai nascer.
Ou está virando a rua das cerejeiras, logo ali.
Enqüanto isso, eu invento. Danço. E desaprendo.