'Na Paulista os faróis já vão abrir' (...)

Ele, lá estava ele sentado, em estado de absoluta depuração, mergulhado no tórrido, no sublime, no inacreditável, mergulhado na espera, embuído de um cheiro de flores, de gérberas, absorto em líqüidos e nevoeiros, que uns chamam pensamento.
E balançava pernas,
tamborilava pés,
e tremia lábios, tremia dedos, tremia medos.
E olhava o tempo no pulso.
E o selvagem das pessoas na Avenida, aquela, babilônica, hiperbólica, corrosiva e delirante.
Foi que ela chegou, finalmente chegou, envolta num vermelho-casaco, num vermelho-nervoso, num vermelho-saudade.
E fez braços de poucos amigos, pouca conversa, poucos ouvidos, lábios, delírios. Que havia uma espécie de amargo no peito, que não a deixava.
E ele, ali, na escadaria da Avenida, aquela, com calafrios, com cala-bocas. Côncavo.
E levou-a, em cima dos braços, debaixo de brigas e gritos e choros.
Houve uma escuridão de 5 segundos, houve uma dança de incontáveis minutos, houve um beijo que disse os poetas e poemas. E as canções.
E disse, o beijo, o que não havia sido, até aquele momento exato.
E disse mais: disse o que ambos sabiam, embora com pouca certeza.
E houve então uma explosão de gérberas, aquelas que ele tinha nas mãos, na escadaria da Avenida.
E um derramamento de cheiros,
de ósculos
e amplexos.





Baseado em fatos reais, uma vez que o fantástico mundo de Elaine é real.
Pelo menos pra ela.
E este não é dos melhores, ela bem sabe, mas é que hoje há um cinza no céu que a deixa de um jeito assim.
E há o Gardel. E aquela canção lindíssima. E tudo o mais.
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3 comentários:

Dane disse...

e tem eu tropeçando pela paulista todos os dias e nunca vendo nada além dos relógios no meio...

mas ficou lindo o texto, a parte de vermelhas saudades, eu queria ouvir gardel, eu ando ouvindo Bola de Nieve, você conheçe, é tão lindo e passional.

ps. oi!!! =)

Anônimo disse...

Flor chiquéééééééérima arrasando no texto. Fui até no dicionário depois!
rs
Beijo, neguinha.

Carô ... Carol... nina ... Carolina disse...

Casca ... Declaro isso uma casca. Até mesmo pra soltar as cosias ruins. Até mesmo pra deixar sair a mais sutil das lágrimas, os movimentos, os gestos. Transparecer aquilo que a deixa inquieta. Soltar risadas e gargalhadas. Vai! Livre-se do casulo. Já é tempo de ir ...
Pra onde? Não crie rótulo. Vc não precisa disso.
Saia! Vá! Agora.
Beijo

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